Livros. Caetano Veloso.

Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria Mas os livros que em nossa vida entraram São como a radiação de um corpo negro Apontando pra a expanção do universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E,sem dúvida, sobretudo o verso) É o que pode lançar mundos no mundo. Tropeçavas nos astros destrada Sem saber que a ventura e desventura Dessa estrada que vai do nada ao nada São livros e o luar contra a cultura. Os livros são objetos transcendentes Mas podemos amá-los do amor táctil Que votamos aos maços de cigarro Domá-los, cultivá-los em áquarios, em estantes, gaiolas, sem fogueiras Ou lançá-los pra fora das janelas (talvez isso nos livre de lançarmo-nos) Ou- o que é muito pior- por odiarmo-los Podemos simplesmente escrever um. Encher em vãs palavras muitas páginas E de mais confusão as prateleiras. Tropeçavas nos astros desastrada Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas. Almerinda Araújo.