•Por Cacileiane Dórea
•Publicado 12/05/2011
•Psicologia

O SIGNIFICADO DE MATERNIDADE E O IMPACTO DA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ EM GESTANTES


Aimara Celi ¹
Francisco Brito 2
Bruna E. Ferreira 3
Cacileane Dórea 4
José Amauri Brito 5
Margarete Paixão 6
Suelen Luz 7

RESUMO

O artigo tem como objetivo compreender os fatores preponderantes na concepção do signifcado de maternidade em gestantes. Utilizamos entrevistas semi-estruturadas e como participantes três gestantes de classe baixa e média, com idades entre 23 e 29 anos. Conceito de maternidade é histórico e o que compõem essas signifcações são a escolha do nome, sexo, arrumação do quarto e roupas.

Palavras-chave:
Significado, maternidade, gestante

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento humano vem sendo estudado tanto pela concepção biológica, com a união de gametas masculinos e femininos e suas transformações em um ser humano, como pelas concepções psicológicas que ocorrem durante esta transformação.
Acreditamos que a relação mãe-bebê (ou outra figura de apego-bebê) seja muito importante na forma como o processo de desenvolvimento psíquico do bebê se inicia (caso o bebê não apresente nenhuma malformação congênita ou qualquer outro transtorno que impossibilite o funcionamento psíquico “normal”).
Não dá para falar na relação mãe-bebê, principalmente na fase inicial, imediatamente após o nascimento, sem mencionar Bowlby e sua teoria do Apego.
A teoria do apego considera que a qualidade das relações de apego (Ex.: seguro ou inseguro) depende das interações entre a díade mãe-criança.
O apego seguro, por exemplo, depende da responsividade contingente dos pais em relação ao bebê, ou seja, da capacidade do adulto em mostrar-se sensível aos sinais do bebê e responder nos momentos adequados com o sorriso, a fala, etc.
A saúde mental da criança depende de que ela tenha uma relação calorosa, íntima e contínua com sua mãe (ou uma substituta com igual papel para ela) na qual ambos encontrem satisfação e prazer. (BOWLBY, 1988 apud RIBAS, 2004).
De fato, para a teoria do apego (Bowlby, 1984a) a espécie humana é equipada com sistemas comportamentais que têm a função adaptativa de promover a sobrevivência. Para BOWLBY (1984a idem RIBAS) os sistemas comportamentais do recém-nascido são instintivos e tem função de sobrevivência à espécie humana, e seguindo com BRETHERTON (1992 subidem RIBAS) a sensitividade da mãe (ou da figura de apego substituta) é considerada como um evento positivo da interação figura de apego-bebê e associada a diversos aspectos adaptativos. Desta forma, pode-se esperar que alguns tipos de resposta sensitiva sejam similares entre culturas (ocidentais).
Deste modo, a responsividade (ou sensitividade) é, portanto, fundamental para a compreensão da qualidade do apego em fases posteriores do desenvolvimento da criança.
Segundo BIBRING (1961) apud JUSTO et. al. (1999), o modelo da psicologia do desenvolvimento deve ser aplicado à faceta saudável da maternidade, evitando as interferências relevantes que acometem o funcionamento psicológico, quando ocorrem aspectos perturbadores como eclâmpsias, abortos espontâneos, dificuldades no trabalho de parto, problemas de saúde do recém-nascido, além de interfências conflitivas ocasionais das relações sociais da gestante. Seguindo este “conselho” , este estudo visa abranger o conceito de maternidade em uma abordagem mais próxima possível do “saudável”.
Para tornar visível este conceito de maternidade, já que além de ser subjetivo é um conceito abstrato, entendemos a necessidade do uso de utilizarmos método quantitativo. Consiste através da realização de uma entrevista semi-estruturada durante a gestação. Vale ressaltar que nossas participantes são primigestas, mas não foi uma escolha intencional.
Sabemos que todo ser humano possui uma rede de significações e a utiliza quando necessário, transformando-se em um padrão de comportamento próprio da pessoa que a possui.
O conceito de maternidade já existe antes mesmo da experiência da gravidez, através de relatos de familiares, das amizades, da mídia, enfim, da relação do ser humano com seu ambiente (no caso estamos abordando as significações para o sexo feminino que biologicamente é capaz de gerar outro ser humano em seu interior). Por isso acreditamos que fazer uma comparação sócio-econômica é interessante, para averiguarmos se esta variável social tão discutida atualmente influencia no efeito final, na relação mãe-bebê.
Na gravidez, entretanto, o conceito se modifica, através da soma de uma mistura de variáveis, como: sentimentos, pensamentos, expectativas, fantasias, transformações biológicas que auxiliam na construção de um bebê imaginário. Cabe aqui mostrar as variáveis identificadas nas respostas das primigestas à entrevista elaborada para esta fase e que reflitam semelhanças às variáveis descritas nas literaturas revistas para este período.
No parto e no puerpério espera-se que todo esse conteúdo psicológico do período gestacional se confronte com a dimensão real.
Cabe então, reconhecer a importância de um estudo desta relação mãe-bebê, logo após o nascimento, no contato inicial com o mundo externo. Vale ressaltar que, esta relação depende muito da subjetividade de maternidade e que este é construído antes, durante e depois à gravidez (grifo nosso). Mas iremos nos deter só ao período da gestação.

1.1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1.1 ANTES DA GRAVIDEZ

Nenhuma mulher (mesmo as adolescentes) chega à gravidez sem ter criado em sua rede de significações a concepção do que é “ser mãe”. Fatores históricos, culturais e sociais influenciam na construção do conceito de maternidade e formam um nicho de desenvolvimento, sendo a casa, a família, o eixo central, desde a infância, deste nicho. Esse eixo é como um sistema dividido em 3 subsistemas: o ambiente físico e social (e.g., tipo de moradia, tipo de organização social da família); os costumes estabelecidos cultural e historicamente, relacionados aos cuidados e criação de crianças (e.g., a noção de infância, e do que é apropriado para criança, as relações entre as gerações, as formas de cuidados básicos e de educar crianças); a psicologia dos que cuidam das crianças (e.g., crenças e expectativas de mães em relação a seus filhos). (MOURA et al., 2004).
Família
Essa concepção de maternidade inicia-se na infância, quando se tem normalmente a presença da mãe e outras mulheres da família (avós, tias, irmãs), em situações de convívio diário. Mesmo quando a menina entra em contato com outros sistemas sociais como a escola, as amizades da rua e etc., é da proximidade com a mãe (ou outra figura que possua este papel) no contexto familiar que a concepção do mundo feminino se fortalece e se consolida.
Nos dias de hoje, podemos ver a ocorrência de alterações nos arranjos familiares, como a entrada das mulheres no mercado formal de trabalho e a presença cada vez maior masculina nos cuidados domésticos e com os filhos (o que merece toda atenção), porém, ainda são as concepções de gênero que ditam as relações sociais. Essa concepção de diferenças de gênero também se herda na infância, onde as meninas são educadas para mais tarde cuidar dos filhos, da família e da casa. (CHODOROW, 1979 apud STEFANELLO, 2005).
Mídia
Aqui, entenda-se por mídia, todas as informações que se consolidam no esquema “maternidade” e que sejam provenientes de televisão, revistas, jornais, rádio, cinema...
O processo de subjetivação da maternidade através da mídia é entendido através da tecnologia do eu (grifo nosso) denominada por Foucault (1979) apud Marcello (2005), e seriam movimentos transcritos aos indivíduos para fixar ou alterar sua identidade para um determinado fim, talvez, certo estado de felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade.
Uma das técnicas de Foucault mais vistas na mídia é quando o sujeito-mãe usa este canal de comunicação para enunciar - se como exemplo de maternidade, falando sobre si mesmo e de como a maternidade a modificou, a potencializou (e.g. Xuxa, Angélica, Cássia Eller, Vera Fischer...).
Desta forma, a mídia obriga o indivíduo a refletir sobre o dispositivo da maternidade, “salvando” os comportamentos e atitudes do exemplo de mãe em sua rede de significações a fim de garantir um desenvolvimento infantil sem prejuízos no futuro, com seu filho.

1.1.2 GRAVIDEZ
Segundo Ferrari e cols. (2007) apud Aulagnier (1990):
[...] a gestação deveria ser considerada em dois níveis – o biológico e o da relação de objeto. O plano biológico refere-se à lenta transformação da célula em ser humano. Quanto à relação de objeto, essa célula é representada, desde o seu princípio, pelo corpo imaginado que precede e acompanha a criança. [...]
“[...] Assim, na medida em que a gestação se desenvolve, vai se processando, no psiquismo da mãe, uma preparação para entrar em relação com a criança que está para nascer. [...]”. (FERRARI e cols. 2007, p.306 apud AULAGNIER, 1994; LEBOVICI, 1987; STERN, 1997, STERN & cols. 1999).
Em se tratando do nível biológico, ou melhor, das modificações fisiológicas “sentidas” (grifo nosso pelas grávidas encontradas em literatura acadêmica de Saúde (CARVALHO, 200), temos:
• aumento da freqüência cardíaca (podem ocorrer palpitações);
• respiração mais difícil, dispnéia; diminuição do peristaltismo (movimentos intestinais para facilitar a expulsão das fezes), podendo causar náuseas, constipação (prisão de ventre) e pirose (azia);
• aumento da freqüência urinária; possível aparecimento de estrias (mamas, abdome, nádegas), manchas (que desaparecem após a gravidez), aumento no suor e maior oleosidade na pele;
• alterações no sangue como elevação no número de leucócitos, redução de hemácias (anemia); mudança do centro de gravidade (equilíbrio) e na marcha, relaxamento da região pubiana;
• aumento de peso (normal: entre 8 a 16 kg a mais do peso pré-gravídico, geralmente de 9 a 12 kg);
• labilidade emocional e irritabilidade ( fruto de alterações hormonais);
• escurecimento da vagina;
• alterações nas mamas como: aumento da sensibilidade das mamas, podendo apresentar colostro a partir do 2º mês, escurecimento e aumento das aréolas, aparecimento de pequenas elevações (glândulas sebáceas para lubrificação) e escurecimento e ereção dos mamilos.
Entretanto, quando falamos das mudanças psicológicas da gravidez, encontramos as mais variadas discussões sobre as variáveis que interferem no psiquismo da mãe nesta fase.
“Diversos motivos tornam importante o conhecimento da dinâmica psicológica da grávida. O impacto das soluções encontradas pela mulher diante da crise do ciclo gravídico-puerperal pode tanto favorecer quanto desencadear ou agravar transtornos emocionais prévios (Deutsch, 1947), com repercussões sobre o núcleo familiar e social (O`Hara, Zekoski, Phillips & Wrigth, 1990), o estado emocional e o desenvolvimento neuropsicomotor da criança”. (FAISAL-CURY; TEDESCO, 2005, p.384)
A gestação é um evento complexo, pois além das mudanças biológicas é uma experiência repleta de sentimentos intensos que podem dar vazão a expressão de alguns conteúdos do inconsciente da mãe (BRAZELTON & CRAMER, 1992; KLAUS & KENNEL, 1992; RAPHAEL-LEFF, 1997, 2000; SOIFER, 1980 apud PICCININI, 2004). A relação mãe-bebê já começa desde agora, e se dá, basicamente, através das expectativas que a mãe tem sobre o bebê e da interação que estabelece com ele. Esta primeira relação serve como previsão para a relação mãe-bebê que se estabelece depois do nascimento e, portanto, merece ser mais bem compreendida (BRAZELTON, 1987, 1988; CARON, 2000; CONDOM & CORKINDALE, 1997; MÜLLER, 1996; STAINTON, 1985 idem PICCININI et al., 2004).
“As expectativas da mãe em relação ao bebê originam-se de seu próprio mundo interno, de suas relações passadas e suas necessidades conscientes e inconscientes relacionadas àquele bebê (Maldonado, 1997; Raphael-Leff, 1997; Soulé, 1987; Szejer & Stewart, 1997). Estas são mais freqüentes e intensas no segundo trimestre da gestação, que é o momento em que o feto, através dos movimentos, anuncia realmente sua existência. Depois do sétimo mês, o volume e a intensidade dessas expectativas tendem a diminuir, preparando, desta forma, o lugar do bebê real (Caron, Fonseca & Kompinsky, 2000; Stern, 1997).” (PICCININI et al., 2004, p.223)
Várias são as literaturas encontradas sobre a construção do bebê imaginário e a importância desta construção durante a gravidez. Segundo Aulagnier (1990, 1994, apud PICCININI, 2003),
desde o início da gravidez a mãe estabelece uma relação imaginária com o feto, como um corpo imaginado desenvolvido, com todas as atribuições que são necessárias para a completude de um corpo. Para Lebovici (1987 idem PICCININI, 2003), existem três bebês na mente materna: um bebê edípico que vem do inconsciente e em paralelo os desejos infantis, um bebê imaginário que é construído durante a gestação e o bebê real, que nasce; da mesma forma que Colman (1973 apud JUSTO et al.,1999) defendem que pelo menos 3 fases com tarefas psicológicas a realizar a gravidez deveria ser dividida: Integração (quando descobre a gravidez, tendência ao retorno à infância e solidificação da personalidade feminina), Diferenciação ( quando se percebe os movimentos fetais, tendência a perceber que a criança que gera é autônoma e a reavaliação do relacionamento conjugal, sai mãe e entra marido como co-participante fundamental desse processo) e Separação (fase final da gravidez, proximidade ao parto, tendência ao preparo à separação física e psicológica da criança que vai nascer).
Na construção desse bebê imaginário, a personificação ocorre quando os pais escolhem o nome do bebê, compram roupas e modificam a casa. Para este conjunto de comportamentos chamamos de apego primordial (BRAZELTON; CRAMER, 1992 apud PICCININI et al., 2003), importante para que a mãe possa imaginar um bebê que não seja uma extensão de seu corpo e assim, se preparar para o choque da separação anatômica, à adaptação a um bebê singular e ao novo relacionamento que combina suas necessidades e fantasias à um outro ser.
O sexo (um dos mais importantes aspectos), o nome e os movimentos fetais do bebê são preponderantes na criação deste bebê imaginário presentes no inconsciente dos pais.
O corpo imaginado permite a mãe ter a dimensão de que esse bebê está inserido na mesma ordem humana de qual ela faz parte (AULAGNIER, 1990 idem PICCININI et al.). Hoje, com o advento da ultrassonografia obstétrica, alguns aspectos já podem ser conhecidos antes do nascimento, facilitando a transição para o bebê real e diminuindo possíveis conflitos ou choques.
Segundo Spitz (1994 subidem PICCININI et al.), se esta representação do bebê imaginário não ocorrer, o recém-nascido não sobrevive ou caso sobreviva, poderá ter sérias conseqüências no desenvolvimento psíquico, o que ele explica pela fragilidade do próprio corpo humano, que ao nascer é extremamente dependente de cuidados do outro.

A literatura expõe repercussões positivas e negativas sobre a expectativa da mãe para a maternidade, para o psiquismo do bebê e para relação entre os dois. As repercussões positivas são as fantasias, o desejo do bebê se formando como ser humano, imaginar a cor do olho, o rosto, o corpo, etc.
Os aspectos negativos são o excesso de imaginações para o bebê, não conseguindo criar o bebê imaginário e tendo como conseqüência a não aceitação da singularidade do bebê. (BRAZELTON & CRAMER, 1992 apud PICCININI, 2004)

1.1.3. PARTO
Além da questão do bebê imaginário, a expectativa do parto também aparece fortemente na construção do conceito de maternidade. Segundo Peterson, (1996 apud LOPES, 2005), o parto não é um evento neutro, mas uma força que pode ajudar na reformulação da identidade da mulher (daí o fato de uma grande maioria de mulheres não se sentir completa na sua feminilidade até o momento em que for capaz de mostrar ao mundo sua competência feminina de gerar um ser).
Existem fatores que podem contribuir para um senso positivo de si mesmas, durante a gravidez e que poderão contribuir para uma experiência positiva do parto: a participação ativa no processo e nas decisões do parto; a percepção de que seus sentimentos são aceitos e respeitados por seus cuidadores (marido, mãe, sogra...); a sensação de domínio e formação de estratégias de enfrentamento para estar preparada realisticamente para assumir o momento do parto e a maternidade; ser vista como alguém que está fazendo o melhor que pode; ampla oportunidade de expressar seus sentimentos sobre a maternidade e sobre o próprio nascimento, os partos de sua mãe e sobre qualquer experiência prévia de gravidez e parto. (PETERSON, 1996 apud LOPES, 2005)
O parto é o momento da mulher se deparar com o bebê real e que provavelmente será diferente do tão sonhado bebê imaginário, idealizado durante a gestação (RAPHAEL-LEFF, 1997 idem LOPES, 2005)
“É no encontro das características inatas do bebê real, e das expectativas, características e fantasias que a gestante tinha para ela própria como futura mãe e para seu futuro bebê, que um novo sujeito surge.” (AULAGNIER, 1990; DOLTO, 1992; JERUSALINSKY, 1984; LAZNIK-PENOT, 1997 apud PICCININI et al, 2003, p.84).
1.2 - JUSTIFICATIVA

A interpretação do confronto imaginário versus real e posterior consolidação do mesmo no psíquico da mãe, tem como resultado o conceito de maternidade final (grifo nosso). Este conceito de maternidade final é o que apóia este estudo, o gerador, o motivador, a sustentação, da relação mãe- bebê. Esta nova significação demonstra em nossas revisões de literatura, ser de extrema importância na escolha dos comportamentos feitos pela mãe, dos cuidados com o recém-nascido e que podem influenciar no desenvolvimento biopsicossocial do bebê. A partir destas demonstrações, pensamos em investigar na prática, o que encontramos em literatura e desta forma treinar uma atitude reflexiva e assimilar melhor nossos aprendizados acerca do desenvolvimento humano, assunto extremamente pertinente à formação de um psicólogo.

2 MÉTODO

Conforme mencionado na Introdução, utilizamos para atingir o objetivo deste estudo o método qualitativo, possuindo um propósito exploratório e descritivo.

2.1. PARTICIPANTES
Serão pesquisadas 03 (três) mulheres gestantes, divididas em dois grupos com o seguinte perfil: classe social baixa e média, em solteiras e casadas. Com idade entre 23 e 29 anos.

2.2. INSTRUMENTOS
• Entrevistas semi-estruturadas (Pré – Parto e Pós- Parto). A primeira entrevista (Fase Pré-Parto) contendo 4 (quatro) blocos visando conhecer detalhes da saúde, condições de vida e sócio-econômicas atuais, contexto familiar ou conjugal e subjetividade da gravidez (expectativas, crenças e significados subjetivos). A segunda entrevista contendo 2 blocos (o parto, mãe e bebê e puerpério, mãe e bebê. As entrevistas estão em anexo (ANEXO I E II).
• Observação dirigida (relação mãe-bebê), no ato da segunda entrevista. O roteiro de observação ainda será elaborado.

2.3. PROCEDIMENTOS
A fim de encontrar o perfil de forma mais facilitada, escolhemos pessoas que temos proximidade, afim de facilitar o andamento do estudo.
Após a seleção das participantes, o primeiro contato será presencial, a fim de requerer o consentimento e sua assinatura. Neste contato, será explicado o motivo, o objetivo (ambos explicados na introdução deste relatório) e as etapas do estudo. A etapa consistiu em uma entrevista semi-estruturada. Todas as entrevistas serão gravadas em áudio.
Dado o consentimento, partiremos para a aplicação da primeira entrevista semi-estruturada, no local de escolha da gestante (a fim de deixá-las mais confortáveis, não contrapondo suas rotinas) e no período reservado para tal (ver cronograma).
Após a coleta dos dados desta primeira, realizaremos a segunda entrevista semi- estruturada, também dentro do limite pré-estabelecido (ver cronograma).
Feito estas, daremos início a análise dos dados coletados para posterior discussão dos resultados e considerações finais.

2.4. CRONOGRAMA (para 1 ano)
ATIVIDADE MÊS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Elaboração das duas entrevistas F F
Pesquisa Bibliográfica F F
Entrega do Pré-Projeto F F
Busca das participantes F F
Contato para consentimento F F
1ª Entrevista F F
Pesquisa Bibliográfica (projeto final)
Análise dos dados e entrega do projeto F F
F- férias

2.5. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
• Termo de Consentimento.
• As participantes não serão identificadas pelos nomes verdadeiros, apenas as iniciais.
• As entrevistas foram elaboradas com a preocupação de não conter perguntas de cunho ofensivo.

3 RESULTADOS

Percebemos que para essas gestantes o período gestacional traz muitas transformações, com isso notamos que algumas delas estão mais envolvidas com a gravidez do que as outras. Como por exemplo uma das mães não esperava estar grávida mais aconteceu, mas se fosse para ela escolher não gostaria de engravidar, pois não consegue suportar as mudanças no corpo.
Outro ponto que nós identifcamos é quanto a participação dos pais do bebê no período da gestação, foi surpreendente, pois uma das gestantes não mora com o pai do filho, mas ele dá a mesma assistência a ela como se fosse casados. Com isso percebemos que em alguns casos o pai da criança não morar na mesma casa não significa que ele não dê assistência a mãe do seu filho.
Identificamos que algumas já pensam no bebê idealizado e outras não dão muita importância quando se trata da conversa com o bebê, canalizam esses sentimentos para arrumação do quarto do bebê, o nome, as roupas, etc.

4 DISCUSSÃO
Trazendo alguns pontos que sinalizamos na coleta de dados , o que consegue demonstrar uma proximidade com a literatura é a questão do nome, arrumação do quarto e a compra das roupas como parte da idealização do bebê. Na construção desse bebê imaginário, a personificação ocorre quando os pais escolhem o nome do bebê, compram roupas e modificam a casa. Para este conjunto de comportamentos chamamos de apego primordial (BRAZELTON; CRAMER, 1992 apud PICCININI et al., 2003), importante para que a mãe possa imaginar um bebê que não seja uma extensão de seu corpo e assim, se preparar para o choque da separação anatômica, à adaptação a um bebê singular e ao novo relacionamento que combina suas necessidades e fantasias à um outro ser.
A literatura traz que o corpo imaginado permite a mãe ter a dimensão de que esse bebê está inserido na mesma ordem humana de qual ela faz parte (AULAGNIER, 1990 idem PICCININI et al.). Hoje, com o advento da ultrassonografia obstétrica, alguns aspectos já podem ser conhecidos antes do nascimento, facilitando a transição para o bebê real e diminuindo possíveis conflitos ou choques. Esses cuidados com a saúde do bebê durante a gestação foi possível identificar uma preocupação das gestantes sobre esse assunto, pois elas tem dado uma atenção maior a esses cuidados médicos. Não só para preservar o bebê, como também a sua saúde.
Outro aspecto que percebemos foi a mudança do jeito de ser após saber que estavam grávidas, pois todas responderam que se tornaram pessoas mais sérias e que estão mais sentimentais, pois a gravidez trouxe uma sensibilidade que elas não tinham.
A escolha do sexo também funciona como fator preponderante para a construção do significado. Na literatura o sexo (um dos mais importantes aspectos), o nome e os movimentos fetais do bebê são preponderantes na criação deste bebê imaginário presentes no inconsciente dos pais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, buscamos investigar como e quanto a subjetivação de um conceito de maternidade pode interferir no modo de como uma mãe se relaciona com o seu bebê.
Tentamos esquematizar de forma linear o trabalho, algo como: CM¹ (conceito de maternidade pré-gravídico = todos os esquemas relativos a maternidade) → gravidez (ação de fatores internos e externos) → CM² ( conceito de maternidade pré-parto) → parto ( análise subjetiva do parto e do encontro com o bebê) → CM³ ou CM final da primigesta → relação mãe-bebê.
Esse esquema facilitou para entendermos quais as metas (objetivos específicos) que tínhamos de cumprir para atingir o objetivo final.
A forma que usamos para ligar o que vimos em nossa revisão bibliográfica e em nossas aulas do curso de Psicologia, fez com que víssemos a teoria acontecendo na prática e assim assimilar melhor os conceitos aprendidos e a estimular o conhecimento de novos.
Pudemos com este estudo, verificar o quanto uma subjetivação não depende apenas do indivíduo, o contexto cultural, no qual a mãe está inserida influencia muito no efeito final (afinal se CM³ depende de CM¹, e relação mãe-bebê depende de CM³ logo, relação mãe-bebê também depende de CM¹).
Quando estávamos concluindo este, verificamos vários aprendizados sobre memória e vimos como muitas vezes precisamos usar dela e quanto às vezes ela nos trai (ainda bem que gravamos as entrevistas!). Verificamos também com nosso estudo de caso, o quanto a memória semântica influencia em seus esquemas e consequentemente no conceito de maternidade da primigesta, ás vezes até como mecanismo de defesa do psiquismo. Pulamos então para o que vimos em teoria da personalidade e rememoramos Freud com seu aparato psicodinâmico e seus complexos, recalques e pulsões são trabalhados neste tema. Gostaríamos de ter nos aprofundado mais sobre o assunto. O encontro com Winnicott foi maravilhoso e causou curiosidade, já que ainda não tivemos um contato mais aprofundado em nosso curso acadêmico. Não escolhemos trabalhar com neurociências diretamente, ao contrário, corremos dela, pois como trabalhamos bastante neste semestre, principalmente neste segundo bloco, com fisiopatogenias, quisemos evitar mais este fator de interferências neste estudo, por isso optamos por uma grávida que apresentasse uma gravidez “normal”, livre de fatores teratogênicos ou de alterações genéticas. Nada impediu-nos de relembrar as aulas sobre memória e de conceitos anteriores como ansiedade, depressão, labilidade emocional e etc...
Não podemos deixar de mencionar o treino que este trabalho nos deu em termos de pesquisa, não só na parte escrita e suas regras e vocabulários técnicos, dos tipos de métodos e das suas particularidades, mas principalmente de aprender a ter uma atitude investigativa.
Por fim, concluir que o conceito de ser mãe, é histórico. Uma infinidade de CMs juntos, mas que nos remete a idéia de Vygotsky com sua sociogênese, que liga responsividade e apego e a de Bronfenbrenner com seus sistemas e suas influências em suas relações. A aprendizagem gerando desenvolvimento.