Por Jacob BettoniPublicado 8/04/2011Psicologia
CHACINA DO REALENGO, COMO FUNCIONA A MENTE DE UM ASSASSINO - O MEGATLETA PERVERSO
Noergologista JACOB BETTONI
Autor de “Revolução de Paradigma na Psicologia”
Coordenador do Curso de Pós-graduação em Noergologia
www.noergologia.com.br
noergologia@noergologia.com.br
Os sobreviventes do massacre do Realengo desejam proteção contra tal ameaça. A verdadeira proteção consiste em conhecer como funciona o sistema pensamento-cérebro de alguém como o bandido da escola do Realengo. Explicações do comportamento desse bandido com rótulos psicopatológicos é uma evidência a mais de que a UNESCO está perfeitamente correta ao acender o alerta vermelho para os riscos da cegueira paradigmática que infecta os profissionais mecanicistas.
Ao longo da história o homem sempre enfrentou dificuldades, desgraças, pragas e pestes. Na razão inversa do conhecimento das verdadeiras causas dos episódios maléficos, atribuía-os à ira dos deuses e à vingança dos elementos. Tal ira poderia ser aplacada com o sacrifício de vidas animais ou humanas. Assim surgiram figuras como a do bode expiatório. Enquanto algumas civilizações mantiveram a tradição de imolar o animal mais saudável ou a vestal mais linda para aplacar forças desconhecidas, outros povos disseminaram o boato de que todos os seus males eram ocasionados por aquele animal ou aquela criatura humana.
Foi assim que os gregos reencarnaram esta crendice na figura do farmacus, alguém que recebia um estigma corporal e que numa cerimônia era expulso da sociedade. Teoricamente com ele seriam expelidas as causa das desgraças. Já no século XV o Manual de Caça às Bruxas teorizou de forma detalhada e convincente que tempestades, chuvas de granizo, peste negra, enchentes e desastres eram provocados diretamente pelas bruxas.
Criaram-se aqui os psicotestes projetivos com o propósito de identificar sinais de um invasor oculto nos traços dos desenhos, capazes de identificar com rigor científico para a época, quais os perigos que esta criatura apresentava para a sociedade. O estigma deixou de ser corpóreo para tornar-se semântico. Uma vez decretada a pena de morte da alma, através de um psicodiagnóstico desfavorável, a sociedade organizava um ritual de julgamento, cujo propósito era tão só obter a confissão da bruxa, para em seguida queimá-la, gesto com que a sociedade imaginava expulsar a causa daquela chuva de granizo, daquela inundação etc.
Com a criação da instituição dos hospícios a sociedade imaginou livrar-se de pragas mediante a providência de encarcerar todos os agentes de incômodo como bêbados, prostitutas, vagabundos e principalmente as histéricas, as grandes sucessoras das bruxas como portadoras de estigma.
Foi assim que herdamos dos nossos antepassados a necessidade de manter a figura de uma causa obtusa ou de um culpado para coisas que continuam inexplicáveis ou inadmissíveis para o grosso da população. É só por este pequeno acidente histórico que o atual ícone do estigma em moda não é o farmacus, nem a bruxa, mas o insano, o louco, o doente mental, o psicopata, o esquizofrênico.
Como demonstraram de forma magistral Michel Foucault e Thomaz Szasz esta é a pequena história de como vetustas crendices mudam de roupa para manter o mesmo engano, a mesma falta de evolução. Os romanos já sabiam que nomina mutantur, numina manent, ou seja, mudam-se os nomes, permanecem os deuses. Ou como define Albert Camus “quando os escravos eram algemados com ferro facilmente se percebiam os grilhões. Quando o metal foi substituído por correntes semânticas torna-se mais difícil perceber a existência de algemas.”
E como tais algemas não são características do estigmatizado, mas uma qualidade da sociedade que cria o bode expiatório, como define preciosamente Sheff, a maneira como tais estigmas são atribuídos é inteiramente aleatória e contraditória, podendo incriminar ou defender. Assim, por exemplo, enquanto existe um estudo psiquiátrico demonstrando que Jesus Cristo era esquizofrênico e Leonardo da Vinci paranóico, assistimos profissionais classificando o bandido da escola do Realengo ao lado do líder religioso e do grande artista. Estranhamente eles conseguem estar certos e errados ao mesmo tempo, mas por razões que geralmente desconhecem.
Eles estão errados porque a dinâmica do comportamento humano, da sociedade e do universo não funciona da maneira como pensam, as vicissitudes da humanidade não são fabricadas pelos estigmatizados apontados como responsáveis por tal e não existe doença mental, a moderna versão da crendice da bruxaria, segundo uma plêiade de autores do próprio ramo. Pode existir neuropatia, falha na topografia ou na fisiologia do sistema nervoso, o que necessariamente afeta a respectiva função, isto é, o pensamento e o comportamento.
Com o advento de moderna tecnologia como tomografia por emissão de pósitrons e fótons, identificando claramente o estado topográfico e fisiológico do sistema nervoso e do cérebro, é relativamente fácil verificar tal hipótese. Em havendo falhas aqui elas devem ser corretamente renomeadas, pois não constituem psicopatologias, mas sim neuropatias. A evolução do homem aposentará seguramente a psicopatologia forense, substituindo-a completamente pela neuropatia forense. Em casos polêmicos é interessante exigir de imediato os exames de PET e SPECT. Se derem positivo não há o que discutir. Mas se derem negativo constituem instrumento de fácil convencimento para liquidar com a tese doença mental.
O caráter de aposição do estigma semântico de psicopata é inteiramente aleatório, já que o conceito de doença mental nada mais é do que a atual reencarnação das superstições da bruxaria e antecessoras, não possuindo qualquer substância científica capaz de sobreviver a uma rigorosa análise de metodologia científica.
Mais do que isto: a própria classificação do gesto do bandido da escola do Realengo é igualmente aleatória e circunstancial, deixando muito clara a tese de Sheef de que a anormalidade é um atributo do grupo que cria o anormal e não algo pertencente à essência do próprio sujeito. Assim, o mesmo ato do bandido da escola do Realengo, que uma parcela de pessoas insiste em catalogar como psicopatológico, ou seja, como algo depreciativo, seria classificado como ato nobre se ele pertencesse ao movimento do Sendero luminoso ou do AL-Qaeda. Estaria sendo aplaudido pelo Al Fatah se tivesse praticado tal ato numa escola com crianças judias, tanto quanto estaria sendo festejado por judeus se tivesse praticado o gesto num ambiente com membros do Al Fatah. Ou teria sido promovido e recebido uma boa grana pelos seus chefes da máfia.
Em todas estas hipóteses vidas humanas foram ceifadas, não importa a intenção do matador. Quem perdeu a vida perdeu o maior bem que possuía. Quem continua vivo deseja proteção contra tal ameaça. E a verdadeira proteção consiste em conhecer como funciona o sistema pensamento-cérebro de alguém como o bandido da escola do Realengo. E é neste ponto que, aqueles que estão inteiramente errados em classificar Jesus, Da Vinci e o bandido da escola do Realengo como insanos acertam sem querer: o mecanismo do sistema pensamento-cérebro é universal e funciona de forma análoga.
A noergologia, o novo paradigma das ciências humanas, mostra que os erros de avaliação em episódios equivalentes decorrem da confusão primária e elementar entre inato e adquirido e do desconhecimento das memórias meganérgicas, ou meganes – comandos com alta eficácia criados pelo autor dos atos, chamadas equivocadamente pelo atual paradigma mecanicista de ideias inconscientes ou de distúrbios psicopatológicos.
O arquivo de memória inata da atividade de luta é apenas a ligada da tomada adrenérgica, que manda mais sangue para o peito e braços, mais cortisol para o cérebro, diminui circulação periférica e sensibilidade à dor. Só isto: se O bandido da escola do Realengo lutará contra Fidel Castro, contra o imperador do Japão ou contra uma plateia de alunos numa sala de aula, tudo isso é simplesmente aprendido corticalmente, durante a existência. E qualquer ideia meganérgica criada para ser usada junto com qualquer arquivo de memória inata, torna-se ideia altamente eficiente.
Meganes são comandos mentais com alta concentração de informações, equivalentes ao laser da física. Eles são criados pela imaginação em telas imagéticas com conteúdos motivacionais intensos, repetição e outros nanomecanismos já descobertos pela Noergologia. O mecanismo em detalhes é explicado no livro REVOLUÇÃO DE PARADIGMA NA PSICOLOGIA, à luz da nova compreensão da energia (E=MC2).
Admitindo-se com Claude Bernard que o cérebro não constitui uma exceção da natureza, e nem a imaginação, constatamos que a criação de meganes, isto é, de memórias com elevadíssimo potencial informacional armazenado é um processo de treino olímpico: você imagina a cena milhares de vezes, cria o algoritmo de cada detalhe, energiza a idéia focal com até 200 milivolts, potencializa-a com repetição e outros nanomecanismos já mapeados pela Noergologia. De sorte que num dado momento você consegue terminar de criar um arquivo de memória com elevadíssima energia informacional potencial armazenada, cuja ação correspondente terá ampla possibilidade de êxito.
Você pode desta maneira criar a megane de realizar uma obra de arte, fundar uma religião, cumprir uma missão sublime, chegar ao estado de Buda, construir uma bomba, explodir um avião com centenas de passageiros, construir a guerra ou a paz, erguer uma catedral, metralhar espectadores de cinema ou assassinar a tiros vários alunos de uma sala de aula. É assim que funciona o sistema pensamento-cérebro do Papa, da madre Thereza de Calcutá, de Mozart, de Leonardo da Vinci, de João do Pulo, de Pelé ou do bandido da escola do Realengo.
Todos estes personagens são atletas olímpicos noérgicos – megatletas – construíram perseverantemente milhares de vezes com a imaginação a megane da obra que finalmente executaram no plano comportamental. Para que os assassinatos na escola ocorressem com tal eficácia, deixando pasmos os espectadores desse espetáculo macabro só há um caminho: o bandido do Realengo metralhou com a imaginação centenas e milhares de vezes, treinou muito tempo até tornar-se também um atleta olímpico noérgico, um MEGATLETA. O uso é inteiramente condenável, mas o mecanismo noérgico mostrou extraordinária eficácia.
E é nestes termos que uma sociedade evoluída deve julgar o bandido da escola do Realengo, como MEGATLETA, imputável tanto quanto o karateka que também treina, mas que também pode fazer mau uso das suas habilidades. Se fôssemos membros de um movimento terrorista ele seria glorificado como herói. Como somos uma sociedade organizada e democrática ele é pura e simplesmente o marginal, embora tenha praticado atos que aprendeu na escola da vida e da mídia, desta mesma sociedade.
Nos quatro cantos do mundo quem semeia ventos colhe tempestade e você come dos frutos da semente que plantou. O atual paradigma mecanicista não concorda com isto, e nem as grandes mídias. Tanto é que depois de fazerem intensiva propaganda e treino para o comportamento violento, tornam-se incrédulas da eficácia das suas sugestões, ficam cegas para o óbvio, não enxergam o camelo porque estão ocupadas em procurar a agulha da causa obtusa perdida no cipoal semântico da sua paralisia paradigmática, Infectando com cegueira perceptiva a sua intensa defasagem cultural na contramão do progresso generalizado que acontece em quase todas as demais áreas do conhecimento humano.
A UNESCO preocupou-se com esta defasagem e no Alerta da Carta de Veneza recomendou a troca de paradigma. Noergologia é a única resposta contemporânea às recomendações da UNESCO.
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